Eventos organizados pelo Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher divulgam ferramentas de enfrentamento à violência disponibilizadas pelo município
SEROPÉDICA - Em Seropédica o mês começou com atividades de divulgação para a prevenção da violência contra a mulher, as quais deram início à campanha “Agosto Lilás – mês de Enfrentamento à Violência contra a Mulher”. O primeiro evento foi realizado pelo Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher (Niam) no dia 7 de agosto na feira do bairro São Miguel e contou com a participação da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos e da Secretaria de Segurança e Ordem Pública. O engajamento dos moradores foi grande, o que deixa óbvia a urgência que as pessoas sentem em falar sobre essa situação que atualmente ceifa a vida de tantas mães, filhas, irmãs e amigas.
Os eventos elaborados no “Agosto Lilás” têm a intenção de levar informações para a população sobre os planos de enfrentamento à violência doméstica e como o município pode auxiliar as vítimas nestes casos. O Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher foi criado em 2009 e é o órgão responsável por garantir acompanhamento psicossocial e fornecer orientação jurídica às mulheres em situação de violência em Seropédica. A sede fica no endereço Travessa Abgail Vicente de Lima, nº 28 no bairro Fazenda Caxias e conta com um conjunto multidisciplinar composto por psicóloga, advogada, assistente social e equipe administrativa.
Eles são os encarregados pelo acompanhamento de mulheres encaminhadas pela delegacia ao Instituto Médico Legal (IML), para garantir que seus direitos sejam cumpridos em todos os passos. A advogada Ana Cleia fica incumbida de assegurar que todas as assistidas recebam orientação jurídica durante o processo. Apesar de receberem cerca de 10 a 20 vítimas mensalmente, coordenadora Camila Prado revelou que metade das denúncias não chegam até elas. Por esse motivo, as ações de divulgação se intensificaram nos últimos meses para que as mulheres saibam que existe um lugar seguro em Seropédica e que é possível se livrar das amarras de um relacionamento abusivo.
Outra integrante do grupo, Renata Rodrigues é a psicóloga responsável por atender as vítimas e explicou: “A maioria das mulheres acredita que os parceiros vão melhorar o seu comportamento, e por isso continuam nos relacionamentos, mesmo que sejam violentos”. Ela falou também que a violência nem sempre vem de um marido ou namorado e que já presenciou casos de abusos feitos por filhos contra suas mães ou por patrões contra empregadas domésticas, por exemplo. Outro grande motivo que aprisiona mulheres nesse tipo de situação é a vulnerabilidade econômica, de acordo com Renata. Por isso, a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos irá disponibilizar cursos profissionalizantes com aulas de design de sobrancelha, manicure, trancista, cuidador de idosos e panificação. “A nossa intenção é ajudar essas mulheres a saírem da vulnerabilidade econômica, elevarem sua autoestima e aumentarem as expectativas”, ela contou.
ENFRENTAMENTO NO DIA A DIA
Trabalhar com violência no dia a dia não é fácil, mas as mulheres do Niam encontraram um jeito para amenizar a severidade de suas funções: o humor. O ambiente passa uma sensação de segurança, existe muita risada, conforto e cafezinho quente. “A gente quer fazer as mulheres entenderem seus direitos, mas é tudo com muito carinho e acolhimento” comentou a coordenadora Camila, que ainda acrescentou: “Aqui nós não temos um olhar julgador e fazemos questão de sempre prestar atenção nisso”.
Para conseguir manter o desempenho em suas funções, as funcionárias sempre participam de treinamentos de forma online e presencial. No último dia 16 de julho, por exemplo, sediaram um encontro entre 27 municípios realizado pelo Centro Integrado de Atendimento à Mulher (Ciam) da Baixada Fluminense. É necessário estar sempre atento às sensibilidades alheias e aos riscos de trabalhar com pessoas que podem ser violentas fisicamente, por isso a preparação torna-se indispensável. Muitas vezes, as mulheres do Niam fazem visitas de acompanhamento às casas das vítimas, mas Camila explica qual é o procedimento nessa situação: “Se percebermos que tem algum risco para nós ou para a saúde das mulheres, a recomendação é ir embora e retornar em outro momento”.
Para colocar em prática os treinamentos e levar os conhecimentos para o município, o Niam começou a realizar capacitações nos postos médicos de Seropédica para instruir os agentes de saúde. Também fazem visitas a abrigos de crianças para darem palestras às adolescentes que estão prestes a sair. A coordenadora falou que começou a perceber o impacto dessas ações ao ver funcionários do posto que presenciaram comportamentos violentos procurarem ajuda.
O LEGADO DE MARIA DA PENHA
A Lei Maria da Penha (n. 11.340/2006), sancionada para ajudar no combate à violência doméstica e familiar contra mulheres, completou 15 anos de sua criação no dia 7 de agosto de 2021. Ela permitiu que cerca de 386.390 vidas fossem salvas só no ano passado por causa da aprovação de medidas protetivas, de acordo com o Portal de Monitoramento da Política Judiciária de Enfrentamento à Violência Doméstica contra as Mulheres do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A campanha “Agosto Lilás” é uma forma de homenagear esse legado e se espalha por Seropédica. Além dos eventos de divulgação, o município também começou a implementar uma nova ferramenta: a ronda Maria da Penha. As rondas serão realizadas por guardas municipais e estarão a encargo da Secretaria de Segurança e Ordem Pública (Semop). Um dos objetivos é apoiar o Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher, que também será responsável pelo treinamento dos policiais participantes. Camila Prado falou sobre a importância de existir um serviço policial local incumbido de resolver essas questões, uma resposta ágil pode significar a diferença entre a vida e a morte de mulheres no município.
As mulheres do Niam também falaram sobre a empolgação que sentem ao ver as vítimas saírem de situações abusivas depois de receberem os auxílios oferecidos por elas. Camila se emocionou: “É muito bom vibrar pelas conquistas das mulheres que vem aqui, a gente chega a se arrepiar”. O mais importante nessas situações é não se calar e buscar ajuda, seja qual for o caso, porque nenhuma mulher merece sofrer dessa forma. Para além da dureza da situação, a esperança de mais arrepios enche o peito da comunidade que enxerga dias melhores para as mulheres de Seropédica.
Para entrar em contato com o Niam e ajudar a trazer um fim para essas situações, basta um telefonema: as denúncias podem ser feitas anonimamente no número 180 ou no próprio canal do Núcleo ligando para (21) 3787-6796.
Via: Jornal Atual
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