Relatório aponta que os pacientes com dependência química e problemas psiquiátricos eram submetidos a tratamento desumano na Casa de Repouso Caetana Greco
SEROPÉDICA - A Polícia Civil investiga um empresário por suspeita de maus-tratos em uma clínica para dependentes químicos em Seropédica, na Baixada Fluminense. O local vinha funcionando irregularmente, de acordo com a prefeitura.
Um relatório feito pela Secretaria de Assistência Social de Seropédica aponta que os pacientes com dependência química e problemas psiquiátricos eram submetidos a um tratamento desumano na Casa de Repouso Caetana Greco.
De acordo com os investigadores e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), Edimilson Messias Ribeiro Júnior, dono do local, é investigado desde 2013 por irregularidades em outra clínica que pertence a ele, em Nova Iguaçu. Ainda assim, Edimilson, que é conhecido como Júnior Ribeiro, conseguiu um cargo na Secretaria Estadual de Saúde.
O RJ1 não conseguiu contato com a defesa de Edimilson. Ele também não respondeu aos contatos feitos por telefone e e-mail disponibilizados na internet.
Documento da Secretaria de Assistência Social de Seropédica mostra os problemas encontrados por fiscais e peritos da Polícia Civil em clínica. — Foto: Reprodução/ TV Globo
O documento da Secretaria de Assistência Social de Seropédica mostra os problemas encontrados por fiscais e peritos da Polícia Civil.
- 36 camas sem espaçamento mínimo;
- Fiação exposta;
- Mau cheiro;
- Falta de acessibilidade;
- Infestação de percevejos;
- Falta de iluminação no quarto;
- Banheiro insalubre.
Luiza Carlos Conceição, de 59 anos, morreu na última quinta-feira (21). Ele foi paciente da Casa de Repouso Caetana Greco por oito anos. Ele foi transferido para uma clínica particular já com o quadro muito debilitado, na terça (19).
A transferência aconteceu um dia após uma ação da Polícia Civil e da prefeitura no local.
“Era uma situação muito desumana, o banheiro não tinha vaso sanitário, as pessoas faziam necessidades em um buraco no chão, não tinha alimentação adequada, e os pacientes estavam muito debilitados”, afirmou uma testemunha.
Imagem da Casa de Repouso Caetana Greco, em Seropédica, na Baixada Fluminense
Foto: Reprodução/ TV Globo
Segundo a Prefeitura de Seropédica, o local só foi fechado na semana passada, mas deveria ter encerrado as atividades muito antes.
Em maio, Júnior Ribeiro escreveu: “Encerramos nossas atividades na Casa de Repouso Caetana Greco”.
E também: “Todos os pacientes foram reintegrados às famílias”.
A mensagem, de acordo com os policiais e fiscais da prefeitura, era mentira. A vistoria comprovou o funcionamento e alertou para a situação alimentar dos pacientes.
Falta de colchões
Geladeira vazia na Casa de Repouso Caetana Greco durante fiscalização
Foto: Reprodução/ TV Globo
A cozinheira informou que o jantar já tinha sido servido às 17h. E que a próxima refeição seria um mingau. Mas os agentes não encontraram nenhum alimento para que o lanche da noite fosse feito.
As acomodações também não contemplavam todos os pacientes. Eram 71 pacientes, mas apenas 56 colchões. Alguns pacientes eram obrigados a dividir a cama.
“Uma situação que me chamou muita atenção, de um senhor de 72 anos, com a perna amputada, que disse que não passava por atendimento médico há mais de dois anos”, contou uma testemunha.
A 48º DP (Seropédica) já apurava a suspeita de maus-tratos no local e aguarda o resultado da perícia no corpo da vítima. Se ficar comprovado que Luiz Carlos morreu em decorrência do tratamento que recebia, o dono da casa de repouso vai responder por homicídio.
Pacientes transferidos
Junior, dono da Casa de Repouso Caetana Greco, em Seropédica, na Baixada Fluminense Foto: Reprodução/ TV Globo
No dia seguinte à operação, quase todos os pacientes foram levados para um sítio em Itaguaí, na Região Metropolitana. A equipe médica era a mesma da casa de repouso que, de acordo com a Prefeitura de Seropédica, não tinha competência técnica para prestar o serviço.
Júnior Ribeiro também é dono de uma clínica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Em maio, a unidade da Casa de Repouso Caetana Greco na cidade pegou fogo. Duas pessoas morreram.
Segundo o MPRJ, a tragédia poderia ser evitada. Há quatro anos, o órgão pediu o fechamento da clínica de Nova Iguaçu, depois de apontar uma série de irregularidades.
No mesmo ano, a Justiça aceitou a denúncia e determinou o fechamento do local. Mas, segundo os promotores, a clínica foi mudando de nome.
Quando o oficial de Justiça chegava para determinar a interdição, a clínica já tinha outro nome e, por isso, não podia ser intimada.
Novo nome
Depois do incêndio, a clínica passou a funcionar em um sítio no bairro de Jardim Paraíso, também em Nova Iguaçu. O local passou a se chamar Centro de Tratamento Ribeiro.
Mas apesar de um homem explicar como, em tese, o local funciona, vídeos mostram que não é bem assim.
“Você aqui tem neuro, tem assistente social, tem trabalho de psicoterapia”, disse.
Vídeos gravados no lugar mostram o contrário. Os pacientes dormem no chão da cozinha, um deles atrás da geladeira e outro entre a pia e o fogão.
Por falta de espaço outros dormem do lado de fora.
Paciente dormindo entre o fogão e a geladeira na Centro de Tratamento Ribeiro
Foto: Reprodução/ TV Globo
Interdição
Na quarta (20 de julho), a Clínica Ribeiro foi interditada por tempo indeterminado.
Em 20 dias, todos os internos devem ser levados para casa ou para outra instituição de acolhimento.
Porém, um dia após a Vigilância Sanitária fechar o local, o aviso de interdição já tinha sido retirado. A polícia quer saber quem tirou o papel.
Mesmo tendo clínicas irregulares e insalubres na área da saúde, Júnior Ribeiro teve um cargo na Secretaria Estadual de Saúde e recebia mais de R$ 4,6 mil todos os meses.
A Secretaria Estadual de Saúde afirmou que, no momento da nomeação de Edimilson na pasta, não foi informada sobre as investigações em andamento.
Via: G1
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